sexta-feira, 1 de julho de 2011

A saga dos Fromkers

Capítulo II - Os trabalhos forçados
                Todos os dias, bem cedo, Botraks falava aos escravos. No seu púlpito de pedra, alcançado por um pequeno carreiro em semicírculo por entre rochas e árvores vastas, conseguia enxergar todos os seus súbditos e eles não demoravam a olhá-lo com tamanha veneração que mais parecia um deus na terra. Os rituais que se seguiam eram estranhos. A contemplação, depois de um pequeno sinal de Botraks, deixava de ser na direcção deste mas para o alto, numa direcção ao céu, ao sol, a alguma árvore em particular… eram tudo questões que faziam muita confusão no recém-chegado Marohke.


                A noite anterior tinha sido uma festa inesquecível. A meio da noite, num ápice, apareceu a filha do velho Botraks, ladeada dos seus protectores, a bela e jovem Jani. Aquela imagem radiava ainda mais aqueles raios de sol que corriam por entre as árvores e reflectiam nas águas do rio. Marohke tinha uma sensação estranha, mas sabia que não se tratava de uma simples ilusão causada pelo impacto do momento. Ali existia alguma combinação estranha que provocava as mais distintas reacções nos presentes.
                Terminada a contemplação, Botraks abandona o púlpito de pedra e todos os presentes se dirigem de imediato para os seus afazeres. Marohke é encaminhado por dois homens para junto de um alpendre onde se encontravam alfaias agrícolas. Com uma enxada ao ombro, os três seguiram por entre uns arbustos junto ao rio até um grande campo de milho. A sua missão, disse um deles, era apenas regar e depois estavam livres para fazer o que muito bem entendessem. Marohke fica ainda mais espantado. A dimensão do campo não era assim tão grande, o que levaria a que terminassem rápido a tarefa, mas sem perguntar uma única palavra lá fez o que fora ordenado.
                Terminada a tarefa, depois de arrumar as suas ferramentas, os seus parceiros regressaram a suas casas, porque tinham mulheres e filhos à espera, e Marohke resolveu passear pelas margens do rio em direcção ao local onde estivera pela manhã no momento da oração. Sem que ninguém se apercebesse sobe ao alto, onde se encontrava o púlpito, e observa com muita atenção tudo o que o rodeava. Aquele lugar era mágico. Permitia-lhe uma sensação única, uma espécie de êxtase, mas um barulho no rio fê-lo voltar à realidade e acelerou a sua saída do local.
                Ao chegar junto ao rio, um pouco mais acima do local onde se encontrava, deparou-se novamente com a bifurcação das águas e um pedaço de terra no meio. As margens que separavam o rio e aquele bocado de terra não eram muito distantes, mas mesmo assim Marohke não hesitou e saltou para dentro daquele pedaço de terra, correndo e observando a sua extensão, era uma ilha. Uma pequena ilha no meio do rio, com uma enorme fogueira no meio e cinzas que ainda fumegavam. Marohke estava perplexo. As surpresas aconteciam tão rápidas, umas atrás das outras, mas ainda nenhuma conseguiu ser desagradável, excepto a conspiração junto ao moinho, que o levasse a confirmar que se tratava do local terrível como era descrito pela lenda que dizia que ‘nunca ninguém tinha sobrevivido aos ataques invisíveis’.
                Ao soar da trombeta, Marohke apressa-se a sair da pequena ilha e dirige-se à casa grande. Era hora do almoço e todos tinham de estar presentes quando chegasse Botraks e a sua família. Mais uma vez, depois de uma curta oração de agradecimento pelos alimentos, esperavam-nos um enorme banquete. Desta vez não estava somente Marohke perplexo, mas os rostos dos presentes faziam adivinhar que algo estava para acontecer. Alguns comentavam que era normal aquele tipo de banquetes mas não tão repetidamente. Os olhos postos em Marohke faziam-no temer o pior, até que entram os guardas da quinta dos Fromkers com dois homens e levam-nos junto a Botraks, que os manda sentar na sua mesa. Todos ficam admirados, mas ao sinal de Botraks uma salva de palmas ecoou a sala.
                Aqueles homens, cochichava-se entre as garfadas, tinham um plano com o exterior da quinta, funcionavam como membros infiltrados para transmitir informações, conspirando contra os Fromkers. No entanto, a estrutura dos Fromkers tinha um plano muito bem montado, funcionava como um grupo secreto que ainda ninguém tinha conseguido furar a barreira principal e todos os impostores tinham sido alvo de detenção antes que provocassem qualquer dano aos habitantes.
                Marohke, ao presenciar tal situação, ficava cada vez mais confuso. Em primeiro não percebia a razão pela qual se quer conspirar contra um local em que todos têm uma vida farta e com tempo para trabalhar, a família, a oração, a diversão e, depois, por que seria que aqueles indivíduos ficam sentados junto a Botraks depois de terem conspirado.

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