segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O Carnaval

TEXTO: Pedro Miguel Sousa
ILUSTRAÇÕES: Ana Carolina
A Escola da aldeia preparava-se para mais uma interrupção para mais umas pequenas férias de Carnaval. Nessa Escola havia meninos de diferentes classes sociais, os meninos ricos e os meninos pobres. Os meninos ricos tinham planeado passar o dia de Carnaval com os seus pais numa daquelas cidades onde é habitual festejar-se com grandes desfiles, enquanto os meninos pobres, que não tinham dinheiro para extravagâncias, iam passar o Carnaval uns com os outros, nas ruas da aldeia.
Assim, os meninos pobres não sabiam muito bem o que haviam de fazer para festejar esse dia de festa, mas logo um deles disse:
- Podíamos nós pintar a nossa própria máscara, arranjar umas roupas que tenhamos lá por casa meias rasgadas, dos nossos pais, pegar nuns cobertores, nuns chapéus e íamos brincar.
Entretanto, Simãozito, aquele traquina de todos os dias, disse:
- Bem, não temos dinheiro para comprar umas pistolas, aquelas bisnagas de água, como vamos fazer?


- Ah, está bem. – Dizia o amigo. Não faz mal, já sei o que fazemos: pegamos nas garrafas de plástico que andam por aí, toda a gente as atira fora, nós enchemo-las de água, fazemos um furo na rolha e está uma arma à maneira… Assim, não gastamos dinheiro, as garrafas até já íam para o lixo, por isso no fim até as podemos colocar no Ecoponto para reciclar.
- é no Amarelo. Disse Simãozito em tom de brincadeira.
Os meninos ricos, ao ouvirem os planos dos outros meninos, não queriam sair da aldeia e contaram aos seus pais como os seus colegas tencionavam comemorar o Carnaval, mas os pais destes meninos não os queriam ver misturados com os pobretanas da aldeia.
O dia de Carnaval chegou, os amigos partiram todos para as aventuras carnavalescas pelas ruas da aldeia, enquanto os meninos ricos foram com os seus pais para os desfiles.
Os meninos que ficaram na aldeia fizeram maravilhas: saltaram, assustavam os mais novos com as suas máscaras horríveis, os mais velhos riam-se à fartazana com as travessuras daqueles que tinham sempre água nas bisnagas porque eram as maiores… toda a gente saía dos cafés, toda a gente saia à rua para ver aquela multidão de meninos que não eram favorecidos pelo dinheiro, mas na imaginação ninguém lhes ganhava. Os seus pais ficaram muito orgulhosos, pois apesar das dificuldades que não lhes permitia comprar uma simples bisnaga, os seus filhos foram os mais astutos na animação do Carnaval lá na aldeia. Os meninos que foram obrigados pelos pais a irem para os grandes desfiles não tiveram a mesma sorte: Ao chegar à cidade onde ia realizar-se o desfile, não tinham lugar para estacionar e, logo de seguida, depararam-se com uma fila enorme para comprar os bilhetes. Mas, lá entraram para o recinto e, embora pudessem saltar, brincar e até percorrer as ruas por onde passava o desfile, não conheciam ninguém, o que os inibiu e ali permaneceram estáticos. O cortejo foi lindo de ver, mas faltavam os amigos para se divertirem.
No dia seguinte, todos regressaram à Escola. A professora pediu que fizessem uma composição, que iriam ler depois em voz alta. Os meninos que tinham sido levados pelos pais para ver os mais chiques desfiles do País, viram um desfile com criticas, umas escolas de samba e estiveram parados a ver o desfile passar. Mas como tinha sido longe da sua aldeia chegaram a casa cansados. Os meninos que ficaram na aldeia, cada um à sua maneira, contavam as mais belas histórias, onde cada um realçava o momento que mais gostou.
No fim da aula os meninos ricos foram para casa e contaram aos pais o que tinha acontecido com os outros meninos. Nesse momento, os seus pais disseram que nunca mais os queriam afastar dos outros meninos, que eram pobres, mas com muita alegria para dar.
 (in Caderno Cultural do Jornal Povo de Fafe)

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