segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A aluna rebelde

TEXTO: Pedro Miguel Sousa       ILUSTRAÇÕES: Ana Carolina

            Era uma vez uma menina que vivia numa cidade muito grande. A sua casa ficava num daqueles bairros problemáticos, onde os grupos formavam trupes para defenderem o seu território. A actuação desses grupos na sociedade nem sempre era a melhor, pois uma simples quesília transformava-se muitas vezes numa enorme confusão por não respeitarem as regras dos bons costumes.
            Rita, a aluna, era muito inteligente, capaz de deixar espantada toda a turma com as associações que fazia da matéria com o quotidiano, reponder perspicazmente às questões formuladas na aula e até questionar o professor sobre matérias ainda não leccionadas. Tirava sempre as melhores notas da turma.
            Embora tivesse sempre as melhores referências da turma a nível de conhecimento, o mesmo não se passava em relação à atitude perante o trabalho. Rita faltava muito às aulas. Ninguém conseguia compreender o seu total desinteresse ou, talvez, a sua desmotivação que a levavam a tomar essas atitudes.


            Numa aula, daquelas poucas em que Rita se fez presenciar, o professor aproveitou esse momento, deixou de lado as matérias da disciplina, e começou a falar da responsabilidade. Enquanto haviam alunos que concordavam com o professor sem grandes questões, Rita não discordava da visão apresentada pelo professor que abordava a humildade, o respeito, a disciplina e a pontualidase, mas mostrou outra forma de encarar a vida. Para esta aluna, viver um dia de cada vez, sem preocupações do amanhã, era o ideal. Os problemas, assim, pareciam passar-lhe ao lado.
            O professor, depois de escutar com muita atenção a aluna, começou a mostrar-lhe que havia vida depois do dia presente, que todos podiam chegar a patamares elevados se enfrentassem com dignidade e com ousadia a vida. Todos podiam e deviam lutar por uma sociedade mais justa, mais humana, pois não era a condição humilde das pessoas que as deviam intimidar perante os desafios da vida, mas aprender que essa arma, a humildade, era a mais poderosa no mundo, capaz de revolucionar o dia de amanhã para qualquer pessoa que resolvesse munir-se com esse ideal.
            Depois de ouvir isto, Rita não se mostrara muito convencida, continuou os seus dias como dantes, até ao dia em que estava quase a terminar o seu curso de cozinha. Na colocação para o estágio profissional, a aluna tinha sido colocada no maior e mais caro hotel da cidade. O mundo dos outros agora também era o seu. Rita estava rodeada por gente poderosa, pessoas que decidiam o futuro dos seus países ou empresários que tinham sob a sua responsabilidade milhares de empregados. Naquele momento, Rita lembrou-se das palavras do seu professor e começou a pensar que afinal esse dia tinha chegado para si. Tinha nas suas mãos o poder de preparar bons pratos para que o hotel continuasse a receber bons clientes ou poderia ‘baldar-se’ ao serviço e ir tudo por água abaixo.
            A aluna em breves instantes reflectiu e resolveu deitar mãos ao trabalho. Não faltava mais sem uma justificação verdadeira e nunca deixou de preparar tudo com carinho, o que lhe deram a promoção na carreira e chegou a chefe de Cozinha. A sua vida ganhou um novo sentido. Agora já se levantava pela manhã a pensar não só naquele dia, mas em todos os dias que a esse se seguiam, pois era seu dever fazer sempre o melhor, não só pelo seu posto de trabalho, mas principalmente por todas as outras pessoas que estavam sob a sua responsabilidade.

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